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A Importância da Usina Farias para a Construção da(s) Identidade(s) do Povo de Surubim

Estamos acompanhando, nos últimos dias, uma forte discussão em torno da iminente demolição da antiga “Usina Surubim – Severino Farias & Cia Ltda”, hoje conhecida como Usina Farias, ou simplesmente “usina”. O que está em jogo vai muito mais além do que simplesmente se é mais viável demolir ou manter de pé o prédio que, durante anos, foi um celeiro do desenvolvimento econômico local e da região e hoje, sem sombra de dúvidas, representa a memória desse povo.

 

O prédio, por si só, enquanto construção de areia e tijolos pode parecer não ter tanta importância ao que o chamado, desde o titulo desse texto, procura evidenciar: a contribuição na construção identitária de povo de Surubim. Portanto, o que acreditamos e defendemos é justamente o contrário. A usina, enquanto um símbolo da história da cidade representa um forte elemento na construção da identidade de Surubim. Assim como a “vaquejada” nos remonta, diretamente, a história da cidade, a Usina Farias tem esse mesmo papel.

 

A identidade de um povo é construída a partir de símbolos. Essa afirmação nos obriga a imaginar e reconhecer diversos símbolos materiais e imateriais que fazem parte da simbologia de um povo. Como dissemos anteriormente, a vaquejada, assim como a fazenda Lourenço Ramos (hoje Escola Lourenço Ramos), a figura da Onça Pintada e do Boi Surubim (que deu o nome a cidade) e, inclusive a Usina Farias, são importantes símbolos construtores de identidades individuais e coletivas. Há, na composição das identidades do povo de Surubim, associação direta com esses (e outros) símbolos. A usina, neste caso, funciona como um significante importante da identidade coletiva em Surubim, por, sobretudo, fazer seu apelo histórico. É claro que esses significados, ao longo dos tempos, tem ganhado novos sentidos, inclusive para as gerações mais jovens.

 

As gerações atuais – ou seja, as juventudes – veem ancorado neste símbolo de sua terra as marcações da diferença. É, antes de mais nada, essa consciência da diferença que consegue contribuir para a construção de uma identidade coletiva, pois ela – a identidade – para existir precisa de algo fora dela, daquilo que ela não é, que difere dela, mas que, de mesmo modo, fornece condições para que ela exista, que a referencie. Assim, ser surubinense consiste em levar consigo toda uma simbologia que fora construída a partir de diversos símbolos, entre eles, a Usina Farias. Essa usina marca a diferença entre os surubinenses e os não-surubinenses.

 

É por meio dos significados produzidos por tais representações que damos sentido à nossa própria experiência e, também, àquilo que somos ou estamos nos tornando, entendendo que este é um processo que nunca se acaba. Assim, a representação, compreendida como um processo cultural, consegue estabelecer identidades individuais e coletivas. Dessa forma, a usina, enquanto símbolo que representa o marcador histórico da comunidade de Surubim, constrói os lugares a partir dos quais os indivíduos podem se posicionar e a partir dos quais podem falar, ou seja, contribui na construção de identidades de seu povo a medida que carrega em si a representação dessa história.

 

Dizendo isto estamos defendendo que a Usina Farias, enquanto símbolo identitário, faz parte do sistema de representação desta cidade e, portanto, se torna elemento importante na construção de identidades individuais e coletivas do povo de Surubim, em especial das juventudes. Dizemos ainda que o que se encontra em jogo não é simplesmente um projeto ancorado no desenvolvimento econômico capitalista, mas no aniquilamento dos símbolos que constituem a construção de sentidos e significados que identificam um povo ao longo da história. O que está em jogo é, acima de tudo, a destruição de um símbolo que, durante décadas, contribuiu (e ainda contribui) na identificação de um povo às suas raízes, que possibilita às juventudes tecerem significados em torno de suas identidades.

 

Em nossa opinião, o tombamento da Usina Farias seria uma ação importante na preservação da memória e, consequentemente, dos marcadores identitários do povo surubinense. Conservar a usina de pé não diz respeito a manter, simplesmente, o prédio, enquanto construção material, mas em buscar preservar os elementos que são constituidores de uma sociedade que se ver ancorada em sua história.

 

O Instituto de Protagonismo Juvenil – IPJ engrossa o coro daqueles e daquelas que, na iminente possibilidade de demolição de um dos mais antigos símbolos da história de Surubim, se recusam a aceitar que, a devir do projeto neoliberal e capitalista, intentam em fazer ruir toda a história (e futuro) de seu povo, de forma mais latente, o futuro de seus jovens.

 

 

Instituto de Protagonismo Juvenil, Surubim, 07 de agosto de 2017.

 

 

 

José Aniervson Souza dos Santos*

Diretor Presidente do IPJ

 

 

Crédito da Foto: Minha Rua Tem Memória

 

 

*também é Presidente do Conselho Estadual de Políticas Públicas de Juventude de Pernambuco (CEPPJ); Especialista em Juventude; Mestre em Educação, Culturas e Identidades e Editor-chefe da Revista Internacional Geração Z.

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