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Afirmação da identidade juvenil a partir dos conselhos de juventude

José Aniervson Souza dos Santos

Especialista em Juventude, Editor Chefe da Revista Geração Z.

Foto: Sage Nenyue

Todos os jovens procuram um espaço para exercer seu protagonismo, seja na escola, família, igreja, bairro ou no grupo de amigos. Ele anseia e necessita desse espaço de afirmação de sua identidade. Ele precisa ser ele mesmo, se sentir alguém que ama que tem amigos, alguém que mantém relações com outras pessoas seja essas relações de amizade, afetiva, sexual ou grupal. Como dizia Erikson (1976, p. 136) que “o jovem que não está seguro da sua identidade furta-se à intimidade ou lança-se em atos de intimidade que são ‘promíscuos’, sem uma verdadeira fusão ou real entrega de si próprio” é necessário então compreender a busca da Juventude por esses espaços de participação e protagonismo como elemento importante para a vivência de sua identidade.

 

Essas relações consigo mesmo e sua capacidade de se relacionar com os outros proporciona ao indivíduo no final de sua adolescência ou no início de sua vida adulta a capacidade de aceitar-se e manter relações de equilíbrio ficando longe do sentimento de isolamento caso esse processo não acontecesse (ERIKSON, 1976).

 

Os Conselhos de Juventude são espaços que proporcionam ao jovem uma atuação no que diz respeito às políticas públicas destinadas a ele. É espaço onde os mesmos têm vez e voz, podendo exercer e potencializar sua identidade, como espaço de afirmação do “eu” e caracterização da pessoa do outro. Também são espaços onde é possível manter relações com outras pessoas de sua faixa etária, que tem os mesmos sonhos, projetos, os mesmos gostos, usam as mesmas gírias, se vestem da mesma forma. É então nesse espaço que à medida que vão descobrindo o outro, vão se assumindo. Ao passo que o jovem está seguro do seu próprio “eu” ele consegue manter relações seguras, suportar as diferenças, conviver com os outros, pois não se sentem ameaçados em seus próprios valores, como diz:

 

É estando seguro do que se é, que se pode finalmente buscar a relação com o outro sem contaminações; ou seja, o outro não é visto em relações projetivas, como extensão do eu, mas sim como um outro com quem se relacionar. Pode-se até suportar as diferenças, entendê-las e conviver com elas, pois que as divergências já não mais ameaçam os próprios valores, seguro que está o sujeito por suas aquisições. (RAPAPPORT 1981, p. 30)

 

O que marca a faixa etária do jovem é a descoberta de si próprio, a descoberta do outro como elemento importante em sua construção de personalidade. Além desses Conselhos serem espaços de protagonismo profissional, o jovem anseia por um momento de se mostrar como capaz. Capacidade para assumir compromissos. Capacidade para desenvolver atividades importantes. É o momento da busca e da necessidade da afirmação de sua identidade, também sua identidade profissional.

 

Os Conselhos de Juventude são para os jovens, além de outros aspectos, espaço de oportunidade de sua realização profissional. Ele precisa dessa realização para se sentir membro ativo e produtivo na sociedade. Precisa encarar seus próprios desejos, sonhos, medos e projetos. Antes era sonho aos poucos passa a se tornar realidade. Ele se depara com muitas novidades. Escolher uma profissão nessa fase da vida é imprescindível para o empoderamento juvenil. Ele precisa sentir-se realizado.

 

“A realização profissional é o que dará ao indivíduo a capacidade de sentir-se membro ativo e produtivo dentro do grupo social” (RAPAPPORT, 1981, p. 30) é o que afirmava quando dizia que o Jovem precisa se sentir parte do mundo produtivo.

 

Pensar então num Conselho de Juventude que proporcione aos adolescentes e jovens espaços de protagonismo e exercício de sua identidade é compreender que os mesmos estão potencializando e oportunizando os jovens em sua totalidade e natureza, respeitando suas necessidades e percebendo suas demandas. Só um Conselho “maduro” conseguirá proporcionar aos seus conselheiros esse espaço, visto que existe em sua composição uma diversidade de cultura, raças, credos, conceitos entre outras particularidades e isso influi na tomada de decisões e na elaboração de propostas que atinjam as mais diversas camadas de jovens da sociedade.

 

Quando a Rapapport (1981, p. 30) diz que “eu sou em grande parte aquilo que faço” ela quis ressaltar a grande necessidade que os jovens têm de serem protagonistas. A medida que eles anseiam em afirmar sua identidade também necessitam para isso realizar ações que contribuam para que seja externado sua capacidade interior de realizar e criar as coisas. Desejam ser notados pela sociedade, percebidos e utilizam de muitos meios para conseguirem. O importante então é ser (re)conhecido, respeitado, principalmente pela capacidade de conseguir realizar as coisas mais difíceis e mais inusitadas.

 

O jovem deseja e precisa ser ele mesmo. Ele precisa experimentar as novidades que passa a descobrir. Ele precisa aprender, mesmo errando. É momento dele experimentar tudo o que foi lhe foi privado na infância. Seu desejo de descoberta é muito grande. Suas concepções, opiniões, suas crenças nesse período da vida está sendo confortada. Cada momento é indispensável para a sua formação e afirmação de sua identidade.

 

Gostaria de citar as palavras de Hilário Dick quando ele fala a respeito do processo de privação das experiências dos jovens: “Quando o jovem vai descobrindo a beleza da ‘saída’ para o encontro do outro, uma moral ou um catecismo que somente sabe dizer que isto e mais aquilo é pecado, o jovem se fecha em seu mundo de novidade, gritando com seu silêncio que não pode ser assim” (DICK 2004, p. 76). Nessa fase o jovem também está descobrindo o seu corpo, seus desejos eróticos, fantasia, impulsos sexuais e passar por essas privações ou como diz Hilário “catecismo” é fatal. “É a forma mais triste de provocar crises e abandonos [...]” (DICK 2004, p.77).

 

Então, pensar no protagonismo juvenil a partir dos conselhos de juventude é possibilitar aos jovens a oportunidade a partir das experiências de outros jovens potencializarem sua identidade como forma de aceitar as diferenças, conviver com elas, entendê-las e respeitá-las.

 

Um conselho de juventude é criado para os jovens. Estes por sua vez estão sendo formados a partir de suas experiências na sociedade. Dessa forma, é necessário olhar para esses espaços de protagonismo juvenil, como as escolas, igrejas, bairros, grupos de jovens, assim como os conselhos de juventude como oportunidade de afirmação e empoderamento de sua identidade, contribuindo para a vivência pacífica e a chegada tranqüila na fase adulta de sua vida.


 



REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

SAPIÊNCIA. Informativo científico da FAPEPI. Artigos: O que é empoderamento (Empowerment). Por Ferdinand Cavalcante Pereira. Postado em 18 fev 2006. Disponível em: http://www.fapepi.pi.gov.br/novafapepi/sapiencia8/artigos1.php, acesso em 18 fev 2010.

 

RAPAPPORT, Clara Regina (Coordenadora). Psicologia do desenvolvimento.V. 04. São Paulo. EPU, 1981.

 

ERIKSON, Erik H. Identidade, Juventude e Crise. Trad. Álvaro Cabral. 2. ed. Rio de Janeiro. Zahar Editores, 1976.

 

DICK, Hilário. O divino no jovem: elementos teologais para a evangelização da cultura juvenil. Porto Alegre: Instituto de Pastoral da Juventude: Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude, 2004.

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