A Juventude está apaixonada! Mas por quem?
Éllcio Ricardo
Psicólogo e Diretor de Projetos do IPJ
Imagem: Paulo Henrique Alves Lima
É no mínimo curioso escrever sobre a paixão nos dias de hoje. O que é este fenômeno humano, estar apaixonado? Já se foi o tempo em que um jovem e uma jovem se enamoravam e escreviam bilhetes, trocavam cartas de amor cheias de corações mal desenhados com canetas coloridas. Tempo em que o rapaz passava em frente a casa da moça apenas na expectativa de vê-la no jardim para trocar olhares ou até mesmo parar por cinco minutos para conversar enquanto o pai da menina não a chamava para dentro de casa.
Esta paixão que fazia bater forte o coração, dava logo um frio na barriga e a cabeça ficava aérea, pois os pensamentos perdiam a conexão. Assistimos hoje a um novo apaixonamento incentivado pela cultura do descartável presente na Sociedade do Espetáculo que segundo Debord (apud Costa, 2005, p.51) “considerado de acordo com seus próprios termos, o espetáculo é a afirmação da aparência e a afirmação de toda vida humana – isto é social – como simples aparência”.
Uma vida de aparências é uma vida que parece ser que aparece para parecer, no entanto, não é. Jovens aparecem através da marca das roupas, aparecem por meio da maquiagem, aparecem no carro que tem, aparecem no som estridente que ensurdece os ouvidos mais sensíveis, aparecem nas músicas e danças mais sensuais, aparecem nos programas de TV através de uma vida dita “social”.
As relações também tornam-se de aparência, os namorados mudam como se muda de roupa, os sentimentos mudam com as estações do ano, ou mesmo com as fases da lua e a troca de amores, de paixões parece ser na condição presente na sociedade contemporânea. Apaixona-se por esta (este), porém daqui alguns dias se conhece outra (o) e se descarta a antiga paixão para se aventurar em uma nova.
Novaes (2001, p. 80) afirma que estamos diante de inúmeros “apelos eróticos que vendem a propaganda de prazeres fáceis, transformando sentimentos em produtos de consumo barato”. A busca pelo prazer desenfreado, a liberação consumista e a propaganda exaustiva, vendem a idéia aparente que basta fazer sexo para ser feliz, transformam homens e mulheres em produtos descartáveis para usufruto passageiro desconsiderando qualquer respeito ou ética no relacionamento. Não estamos falando sobre moral, sobre uma vida sexual moralizada como assistimos nos tempos antigos. Queremos alertar para uma ética de comprometimento com o bem-estar do outro, seja ele físico biológico e/ou psicológico.
Talvez não seja mais possível voltar à Era dos apaixonamentos secretos e singelos, e não queremos dizer que seria este o melhor caminho, no entanto, é na juventude que o as pessoas, em sua maioria, encontram ou pretendem encontrar seus amores, suas “caras metades” ou simplesmente um pedaço da laranja que sirva para ser apreciada, degustada, em momentos agradáveis. Quando alguém disser “Eu estou apaixonada”. Outro alguém lhe perguntará: mas por quem? Ela porém lhe responderá: por Alexandre, Marcos, Patrícia, Roberta, Amparo, Bruno...
REFERÊNCIAS
COSTA, Claudine A. Q. Três modos da experiência de “ser-com” e “ser-si-mesmo” em situação conjugal: um estudo exploratório. Universidade Católica de Pernambuco. Dissertação de Mestrado. Orientadora: Henriette Tognetti Penha Morato, 2005.
NOVAES, Adenauér, M. F. de. Amor Sempre. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2001.